Muito se fala sobre a vã busca pelo tal “corpo perfeito”. Nos últimos anos, vejo um movimento forte de pessoas que rejeita os padrões de beleza inalcançáveis das musas fit do instagram e celebridades de capa de revista. Já sabemos que uma foto não conta a história completa e que as imagens são extremamente manipuladas e retocadas antes de chegarem até nós.
Creio que a ilusão do corpo sarado que antes era o alvo de muita gente foi substituída por outra obsessão: a de ser perfeitamente saudável.
É claro que ainda temos pessoas fazendo loucuras, sofrendo e cometendo excessos em nome da estética. Mas percebo um grupo cada vez maior que exagera em nome de algo considerado mais nobre: a saúde.
Aqui, quando falo de saúde, não estou falando apenas de aspectos físicos, mas também dos outros contornos que essa palavra foi ganhando ao longo dos anos.
O alvo hoje é ser perfeitamente equilibrado: ter uma alimentação orgânica, agroecológica e sustentável; praticar atividades físicas diariamente com roupas de marcas conscientes e de pequenos produtores; cultivar momentos diários de meditação; ter uma carreira produtiva, criativa e prazerosa… O alvo hoje é a vida perfeita, saúdavel em seus aspectos físicos, emocionais e sociais.
Parece que ao nos livrarmos da opressão dos perfeitos padrões de beleza, escolhemos nos tornar escravos de um novo senhor: o lifestyle ideal.
Se antes bastava ser rico, bonito e magro para ser “aceito” pela sociedade. Hoje, é necessário ser sustentável, se manifestar politicamente, cuidar do seu lado espiritural, apoiar pequenos produtos locais, trabalhar com o que se ama, ter uma rotina matinal organizada, ir somente a feira orgânica, etc.
Veja bem: as coisas que listei acima são muito bacanas! É claro que comprar do pequeno produtor é uma ação legal! É óbvio que os orgânicos são um excelente avanço quando comparados ao alimentos convencionais! É óbvio cuidar de aspectos emocionais e espirituais faz parte do cultivo de uma boa saúde! A minha angústia (que talvez seja a sua também) é que parece cada vez mais difícil se encaixar nesse padrão de vida ideal.
A gente até quer comprar orgânicos, mas eles nem sempre são acessíveis onde a gente mora.
A gente até quer ser sustentável, mas não consegue comprar todos os alimentos a granel.
A gente até quer fazer pausas no dia para meditar, orar ou refletir, mas não sobra tempo para isso e cuidar das crianças.
A gente até quer comprar só do pequeno produtor artesanal, mas não cabe no orçamento.
A gente até acha bonito essa ideia de trabalhar só com o que ama, mas às vezes nem sabe o que ama fazer!
Então aqui estou eu, apontando mais uma armadilha para a nossa felicidade: a busca vã pela vida saudável perfeita. Me sinto na responsabilidade de falar sobre isso porque eu mesma (sem querer) posso me tornar uma engrenagem desta máquina. Toda vez que posto uma foto de um prato gostoso e saudável, mostro minhas compras na feira orgânica ou que falo sobre como incluir atividade física diária mudou a minha vida, posso estar jogando lenha na fogueira desse novo padrão ideal. Por isso hoje venho te contar que o ideal não existe, o perfeito não existe e como diz o ditado: ele é inimigo do bom e do possível.
Durante estas semanas, te encorajei a fazer escolhas alimentares conscientes e inteligentes, te estimulei a fazer cardápios organizados e a cozinhar refeições frescas para a sua família. Se você conseguiu colocar isso em prática, maravilha! Mas aposto que mesmo nos seus avanços e aprendizados, você tenha se deparado com dificuldades da vida real.
Como é frustante quando nos esforçamos em busca da vida saudável perfeita e alguém chega com um dedão acusador para mostrar todos os erros que cometemos! E pode ser que esse acusador seja a gente mesmo! Imagina: você faz o cardápio da semana de acordo com o passo a passo visto aqui, vai ao mercado e compra todos os ingredientes que precisa (talvez nunca tenha feito uma compra tão cheia de frutas e verduras), cozinha tudo e deixa na geladeira! Aí você decide postar uma foto das marmitas na internet e se depara com uma porção de comentários assim:
“Mas esse tomate é orgânico? Porque tomates são os vegetais com mais agrotóxicos que tem”
“Você vai congelar isso no plástico? Ah! Plástico é péssimo pra saúde! Super tóxico!”
“Pra que congelar tudo pra semana? Assim você vai perder um monte de nutrientes.”
“Ah! Mas você cozinhou com óleo de soja? Isso é um veneno! Tem que usar banha de porco.”
“Nossa! Quanto carboidrato na refeição de quarta-feira! Você não podia ter colocado umas proteínas a mais pra ficar mais low carb? Batata aqui só no final de semana!”
Talvez você tenha recebido comentários assim online… ou talvez eles tenham sido ao vivo mesmo! Eles podem vir da sua mãe, da vizinha, do marido, da sogra, do médico, do nutricionista ou até mesmo como uma auto-crítica.
Esse nível de cobrança e perfeccionismo pode ser muito angustiante e deixar a gente… cheio de neura. E como aqui a gente quer ser saudável e sem neura, eu precisava trazer isso à tona! Você e nunca vamos conseguir fazer tudo perfeitamente e ao final de cada refeição ficarão evidentes melhorias que podem ser feitas.
A atitude saudável é aplaudir nossos avanços e tentar superar nossos defeitos! Isso sem desqualificar nossos esforços e progresso!
A questão dos orgânicos é uma das que mais recebo. Fazemos tanta propaganda sobre como comer alimentos orgânicos é legal, que muita gente fica com medo das verduras com agrotóxico. Quase toda semana recebo perguntas de gente angustiada porque não tem dinheiro ou acesso a orgânicos e a minha resposta geralmente é: faça o “melhor”que é possível para você! Se você pode plantar parte da sua comida, faça isso! Se você pode comprar alguns orgânicos por semana, faça isso! Se você só pode comprar convencionais, faça isso! Encher a alimentação de frutas e verduras é muito mais importante do que só ter orgânicos na geladeira.
Hoje, eu quero te convidar a abrir mão da perfeição na alimentação para ser realmente saudável e sem neura. Ao invés disso, te chamo a encarar a vida saudável como uma caminhada. A cada dia, a gente anda um passinho, melhora algum aspecto, aprende algo novo… Às vezes, pode acontecer da gente até dar uma regredida, andar pra trás. Mas isso não tira o valor de todo o percurso até aqui! A ideia é mesmo diante da imperfeição, da dificuldade e do “defeito”, a gente continuar caminhando!
Cada novo dia, cada hora, cada refeição é uma oportunidade de andarmos mais um pouco nessa caminhada! Jornada essa que dura uma vida inteira e deve ser gostosa, leve e sem neura!
E você? Já sentiu angústia por não ter conseguido viver de forma perfeitamente saudável? Me conta aqui embaixo! Abraços, Marina
Só li verdades.Vc falou tudo q sinto em relação ao assunto.muito obrigada Marina! bjusss